domingo, 30 de abril de 2017

VI ENCONTRO DO GRUPO TEXTUALIDADES CONTEMPORÂNEAS PUC-RIO 2 de maio

LOCAL: PUC-RIO – SALA CLEONICE BERARDINELLI – LF42
DATA: TERÇA-FEIRA, 02 DE MAIO DE 2017
HORÁRIO: 10:00 – 18:00
COORDENAÇÃO: JÚLIO DINIZ E MIGUEL JOST

CAFÉ DE BOAS VINDAS – 09:30 – 10:00

MESA 1 – 10:00 – 12:00 
Mediação: FERNANDO FIORESE (UFJF)

ROGÉRIO LIMA (UnB/CNPq)
Título: Entre a regra e a exceção: pensar a criação artística num mundo mal
Resumo: No desenho do tempo presente intelectuais como Zygmunt Bauman (2015), Pascal Gielen (2015); artistas como Pier Paolo Pasolini e Damien Hirst (1991) chamaram atenção—por meio das suas obras e ou pensamento crítico—para a barbárie que domina o nosso tempo. A figura do tubarão-tigre medindo cinco metros e pesando mais de 2 toneladas, embalsamado, de autoria do artista inglês Damien Hirst é uma das representações mais agressivas do nosso tempo na arte contemporânea. A obra intitulada The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living, de 1991, representa bem a fúria e a voracidade da nossa contemporaneidade, além de afirmar e confirmar a supremacia do dinheiro e o poder que alguns nomes tratados como marcas têm no universo da arte contemporânea—em estreita conjugação com a publicidade—de atribuir valor de obra de arte a determinados objetos. Este trabalho tem como proposta pensar alguns aspectos do tempo presente, lançando uma mirada investigativa e teórica sobre diversas formas de expressão intelectual no âmbito das artes e das humanidades: literatura, crítica, dança, fotografia, performance, economia, cinema, política, mídias digitais, novas identidades sociais.

FREDERICO COELHO (PUC-RIO)
Título: Contracultura: escritas transgressoras para existências experimentais
Resumo: A fala investigará um conjunto de práticas artísticas e textuais relacionadas à contracultura e sua época (1960/1070) cujas transformações radicais na própria definição dos sujeitos (e de sua crise) fundam escritas transgressoras sobre si, sobre o outro e sobre os campos de ação que tais práticas atuam. A transformação epistemológica dos centros organizadores do discurso durante o pós-guerra e as lutas anticoloniais rasuram existências e saberes estáveis (a Cultura) e produzem novas subjetividades que reivindicam a invenção, a experimentação e o delírio como procedimentos na arte, na política e numa vida "contra a Cultura". São textos que nascem em prisões, internações psiquiátricas, torturas, exílios, solidões, silêncios, amizades ou resiliências e materializados em poemas, diários, cartas, artigos, entrevistas, falas, teorias, livros, filmes, arquivos. Nos instalaremos em alguns exemplos para propormos um pensamento crítico oriundo desse período em contraponto a abordagens simplificadoras do período e dos nomes envolvidos. 

JÚLIO DINIZ (PUC-RIO/CNPq)
Título: Foto(bio)grafias
Resumo:  A fala tem como objetivo especular sobre a utilização da fotografia como uma narrativa autobiográfica e autoficcional, em particular, na cultura brasileira. Inúmeros livros e catálogos, nas últimas décadas, investiram na ideia de se criar, a partir de acervos iconográficos, uma “história da vida cultural brasileira” a partir de histórias de famílias, grupos e indivíduos como uma maneira de “preservar” a memória e “ilustrar” o passado. Observa-se na contemporaneidade a emergência de um desejo incessante de documentar, guardar, multiplicar, preservar, com medo de um bug, apagão, falha, perda definitiva. Parece uma busca desesperada (e já por si fracassada) de totalizar a memória, arquivá-la num HD indevassável, monumentalizar a experiência humana. O peso documental das imagens que marcaram o período varguista do Estado Novo, por exemplo, imprime dureza, gigantismo, relevância e autoridade às cenas que tinham como objetivo afirmar nossa emergente e frágil modernidade. São representações fechadas, unificadas, formas imaginárias de uma desejável e manipulável identidade brasileira costurada nas feridas que a(s) ditadura(s) nos impuseram. Como contraponto, ou leitura a contrapelo das narrativas visuais vistas do presente, pode-se pensar não na representação in totum dos componentes significativos, mas na encenação da ambiência que se infiltra na (obs)cena do retrato.    

MIGUEL JOST (PUC-RIO/CAPES)
Título: Fome e marginalidade na produção audiovisual brasileira
Resumo: A comunicação pretende, a partir de uma revisão crítica dos conceitos de "estética da fome" de Glauber Rocha, "cosmética da fome" de Ivana Bentes e "dialética da marginalidade" de João Cezar de Castro Rocha, analisar como os termos fome e marginalidade foram determinantes como vetores de interpretação para o cinema brasileiro desde os anos 1960. Sob essa perspectiva, desejo ainda jogar luz sobre a maneira como um conjunto de realizadores do audiovisual contemporâneo em nosso país recebe e incorpora esse debate em suas obras.

MESA 2 – 13:30 – 15:00
Mediação: SYLVIA CYNTRÃO (UnB)

ALEXANDRE MONTAURY (PUC-RIO/CNPq)
Título: De papéis e texturas
Resumo: Em Os papéis da prisão, de José Luandino Vieira, e em Os papéis do inglês: ou o ganguela do coice, de Ruy Duarte de Carvalho, é possível identificar textualidades e tonalidades heterogêneas, que se abrem para o relato etnográfico e a ficção; para os registros anticoloniais e as práticas de escrita pós-colonial, entre outras formas de objetivação. Mais do que um esforço analítico das cronologias histórico-políticas ligadas ao colonialismo português em Angola, pretende-se evidenciar "texturas" presentes nesses "papéis", a partir da premissa de que carregam procedimentos particulares de hibridação: além de amalgamarem sentidos, métodos e registros de natureza diversa, são capazes de gerar comunidade a partir de gestos de resistência que nascem num espaço de coabitação tensa, onde racionalidades hegemônicas e racionalidades alternativas desenham um quadro singular de epistemologias e textualidades em conflito.

ELGA LABORDE (UNB)
Título: Hermenêutica e reinvenção da linguagem na narrativa de Diamela Eltit
Resumo: Esta comunicação objetiva analisar alguns aspectos textuais dos romances Los trabajadores de la muerte (1998) e Fuerzas Especiales (2013), dentro dos focos teóricos da pós-modernidade e das complexidades simbólicas de representação que Diamela Eltit propõe na relação entre a realidade, a condição humana e a perspectiva histórica.  Este trabalho procura também, revisar a intensa intertextualidade e o barroquismo que habitam a obra dessa autora na hermenêutica de sua linguagem fragmentária; o deambular de sua fragmentação, da pluralidade e multiplicidade, da dispersão e da marginalidade. Nesse contexto, enfoca-se a palavra e seus descentramentos, pedaços de materiais, de vozes, de gêneros; assim como a mascarada e o simulacro, a verbalização das emoções, a multiplicidade da escrita, próprias das incertezas e desorientações como local da literatura do Chile na contemporaneidade.

FERNANDO FIORESE (UFJF)
TÍTULO: Uma outra história: em torno da poética de Francisco Alvim
RESUMO: Os estudiosos assinalam na poética de Francisco Alvim a despretensão estética e estilística e o caráter fragmentário, elíptico e minimalista, bem como a crítica ao formalismo, ao engajamento político e à ideologia, posturas típicas da poesia dos anos 1970. Também se referem à elisão do eu lírico (nos moldes definidos por Hegel) por meio do acolhimento das vozes de pessoas anônimas e comuns, em geral postas à margem do registro histórico e consideradas, por conta de sua dissonância ou contraposição, não mais que um banal desvio na sintaxe reta e férrea dos discursos hegemônicos. Neste sentido, propõe-se a leitura da poética alviniana, em particular o poema “Revolução”, extraído do livro Passatempo (1974), como enfrentamento das questões relativas à passagem da modernidade à pós-modernidade, tal como identificadas por Gianni Vattimo em La fine della modernità: nichilismo ed ermeneutica nella cultura post-moderna (1987) e La società trasparente (1989), a saber: o fim da noção de história unitária, centralizada e conforme ao ideal europeu de progresso e civilização, o advento plural e explosivo de outras vozes, racionalidades e Weltanschauungen “locais” (minorias étnicas, sexuais, religiosas, culturais, estéticas etc.) e a crise do “princípio de realidade” debitário do vigor e da violência da Metafísica no sentido de submeter as coisas, o homem e o mundo à objetividade da ciência-técnica. 

CAFÉ – 15:00 – 15:30

MESA 3 – 15:30 – 17:30
Mediação: MIGUEL JOST (PUC-RIO/CAPES)

PAULO DA COSTA E SILVA (UFRJ)
Título: Viver para criar. Uma leitura sobre o processo criativo na vida contemporânea
Resumo: Partindo do campo recente e multidisciplinar dos estudos do processo criativo, a comunicação pretende investigar algumas questões que emergem do encontro entre características marcantes da vida contemporânea e o pensamento criativo. A fala irá se apoiar numa leitura ontológica do processo criativo, frisando a importância crucial de seu cultivo na vida cotidiana como antídoto e defesa diante de um mundo marcado pela escalada do sentimento de insegurança e de impotência individual. Sob a luz de concepções históricas, filosóficas e artísticas, serão abordadas algumas noções correntes sobre criatividade (englobando diversos campos artísticos e científicos), e alguns dos possíveis incentivos e obstáculos que a vida contemporânea coloca no caminho da expansão criativa em todas as esferas da vida.   

SYLVIA CYNTRÃO (UnB)
Título: O lugar da poética do cancionista nas reorientações da expressão cultural brasileira contemporânea
Resumo: Esta comunicação visa discutir alguns aspectos de como a música popular brasileira desenvolveu-se como voz ativa da contemporaneidade no Brasil e de que formas vem se manifestando como vetor cultural que trabalha com a figurativização do real, manipulando um capital simbólico coletivo. O teórico Dominique Maingueneau cunhou uma palavra –paratopia- que traz a questão-chave em torno da qual a multiplicidade da expressão poética contemporânea pode ser pensada. Ele aponta para o fato de a literatura (e aí incluímos a canção popular como parte do projeto poético brasileiro modernista que se inicia em 1922) ser um espaço diferente das outras atividades sociais, porque não é possível definir para ela um espaço estável no âmbito da sociedade. O artista contemporâneo da canção habita um espaço estético de intervenção em que qualquer identidade radical é diluída e o sujeito artístico é livre para ressignificar o imaginário que o impulsiona, na incorporação de seu contexto de influência. Olharemos o sujeito histórico, que, criado pela cultura de fim de século (XX) e início do XXI, conforma e reduplica, ou traduz e transforma a tradição. Tentamos, assim, oferecer algumas pistas sobre o lugar social e existencial do cancionista hoje.

WILTON BARROSO FILHO (UnB)
Título: Escolhas estéticas e a configuração do espaço criativo em dois momentos da obra de Carlos Fuentes
Resumo: Entre dois romances de Carlos Fuentes, La muerte de Artemio Cruz, publicado pela primeira vez em 1962 e Federico en su balcón, publicado logo após a sua morte, em 2012, podemos observar dois momentos de sua grande carreira literária. A proposta de estudo aqui é analisar se há uma mesma regularidade de construção imaginária nestes dois romances. Examinaremos as escolhas estéticas do autor para podermos extrair a reinvenção praticadas no interior dos seus territórios de criação e analise. As figurações das relações humanas dos dois personagens, Artemio et Federico, serão analisadas dentro de uma perspectiva comparatista para assim exprimir o  jogo que lhes dá as suas expressões humanas, situadas no interior de seus espaços imaginários. Finalmente o estudo do espaço criativo em Fuentes conduz, supomos, a uma arqueologia da intimidade do seu texto que faz surgir a sua verdadeira identidade literária bem como as transformaçøes que aparecem no processo criativo dos seus romances, o que acaba por desvendar a reconfiguração do seu espaço imaginário. 

LEANDRO RODRIGUES GARCIA (UFMG)
TÍTULO: "Crítica epistolográfica" - uma nova crítica? um novo método?
RESUMO: Os estudos e publicações de cartas e correspondências tem alcançado um significativo aumento, nos estudos literários brasileiros, nos últimos anos. Nunca se publicou tantos epistolários, nunca a carta ganhou tanto espaço em periódicos, programas de TV e jornais de resenha, fazendo com que editoras de todos os tamanhos começassem a perceber a importância e mesmo o poder de mercado de tal gênero. Na Universidade, é sensível o aumento de dissertações e teses que tentam compreender o fenômeno epistolar. Neste sentido, em 2014, durante um evento científico na Universidade de São Paulo, criou-se a expressão "Crítica Epistolográfica" para tentar caracterizar todo o trabalho hermenêutico em torno das cartas. Seria esta expressão adequada? Trata-se de uma nova área da crítica literária ou apenas uma metodologia da mesma? Quais as suas fronteiras metodológicas e epistemológicas? São questões que pretendemos problematizar neste encontro, longe de defini-las em exatidão. 

ENCERRAMENTO – 17:30 – 18:00
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